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sábado, 11 de novembro de 2023

O que torna o fim de Shingeki no Kyojin ruim?

 Fiz esse post lá na página do Instagram e rendeu algumas boas discussões, então resolvi trazer para cá. O tema é simples: o que torna o fim de Shingeki no Kyojin ruim? Separei alguns pontos importantes para esclarecer a minha opinião sobre isso:


Ideias boas, execução péssima

Várias ideias no final são boas e inevitáveis (tudo caminhava para aquilo mesmo), por isso há momentos memoráveis e eu entendo quem gostou. Porém para a maioria dos casos a execução é péssima e eu culpo duas coisas: a pressa e a falta de habilidade de Hajime Isayama para escrever algo que não seja mistério/terror. 

Mistério vira furo de roteiro

Isayama deixou várias coisas em aberto quando se trata dos Caminhos e do poder dos titãs. Até aí tudo bem, nem tudo precisa ser explicado. Porém quando essas lacunas são usadas como elementos cruciais na história (como o contato com os antigos portadores), aparece o deus ex machina (evento que acontece sem preparação/razão) e a falta de explicação se torna furo de roteiro. E isso acontece muito.

A banalização do genocídio

Parece que Isayama quis construir uma dualidade entre Eldia e Marley, um cenário em que ninguém estava certo e que haveria debates sobre cada posicionamento. Só que ele não soube escrever isso. Passamos dezenas de capítulos acompanhando os personagens de Paradis e quando Marley é mostrada só ficamos com mais raiva deles. Para corrigir isso, Isayama fez Eren recorrer a medidas drásticas e de moral inquestionável (leia-se genocídio).

Isso fez com que muitos leitores ficassem do lado de Eren (se você faz parte desse lado, repense sua moral, sério). Com medo de ter colocado muito peso de um lado, começa a banalização das ações do Eren, como se o que ele fez fosse só uma decisão ruim. Com isso, Armin, a pessoa mais racional entre os protagonistas, solta a frase mais absurda da história dos mangás: “obrigado por se tornar um assassino em massa pelo nosso bem”.

O roteiro é ruim

Diante de tanta incoerência e furos de roteiro, o autor não conseguiu transmitir os sentimentos que provavelmente estavam em sua cabeça, então Isayama apelou para técnicas de roteiro dignas dos piores escritores. Os personagens começam a verbalizar ideias e sentimentos, as falas são bobas e expositivas e todos os personagens começam a agir fora de seus arcos em prol da história terminar.


A motivação do Eren

Não existe nada de errado com Eren se tornar um vilão (Death Note e Code Geass mostram como isso é possível), eu acho até corajoso essa desconstrução e o caminho até aqui. O problema é que as motivações dele não são bem definidas: ora ele fala em liberdade, ora em pôr fim ao ciclo do ódio, de repente ele está sendo manipulado por Ymir e em um momento ele diz com todas as palavras que não sabe o motivo daquilo que está fazendo. 

E isso não parece coisa de um personagem em conflito. Parece que o autor não sabe o que está fazendo... ele criou um genocida, mas ficou com medo de deixá-lo 100% mal, então apelou para motivações tortas e explicações cheias de furos. Às vezes ele é um monstro, mas de repente age como humano (como ao chorar por Mikasa). 

O amor de Ymir

Isso aqui chega a ser ofensivo (e até o próprio Eren diz que é difícil acreditar). Dizer que Ymir amava o rei que fez todo tipo de coisa ruim com ela é simplesmente desprezível. Sabem por que uma ideia tão escabrosa foi usada? Porque foi o único jeito que Isayama encontrou de colocar uma ligação entre passado e presente, trazendo a história até Eren e Mikasa. De novo o roteiro péssimo em ação.

A despedida de Jean e Connie

Como parte dessa pressa, temos a despedida de Jean e Connie quando eles estão prestes a se transformarem em titãs. É uma cena bonita e aceitável, porém exatamente um capítulo depois a transformação é desfeita, arruinando qualquer impacto emocional da despedida. É um exemplo da falta de consequências, de como cenas boas são arruinadas pelo final apressado.


O Eren pombo

Eu sei que é uma piada a forma como as pessoas tratam o Eren pombo, mas eu encaro como o símbolo definitivo de tudo que é ruim nesse final: roteiro mal escrito, exposição demais, falta de pulso firme na hora de escolher se Eren era vilão ou não, simbolismo fraco, personagens traindo seus próprios arcos, pressa, falta de conclusões, etc.. 

Ah, e essa cena é horrorosa mesmo.



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Até a próxima postagem!

4 comentários:

  1. Curti como montou o texto e argumentos sem dar muitos spoilers, parabéns.
    Eu até entendia as motivações do Eren em se vingar de Marley (aliás, que nome horroroso para um país..), mas quando ele estendeu essa vingança para o mundo inteiro comecei a duvidar do fim da história.

    Ou ele se tornaria 100% um vilão sem chance de redenção ou a redenção viria aos trancos e barrancos, e mesmo assim muito mal contada. E a segunda opção veio mesmo, infelizmente.

    SPOILERS ABAIXO:

    Eu teria ido fundo pro lado mais trágico da história: Eren adquire os poderes do Fundador, marcha com o Estrondo pelo mundo, passa a controlar os titãs restantes aos poucos e todos os amigos vão se sacrificando para impedir o genocídio, inclusive Armin. Após finalmente ser derrotado, Eren encontraria Armin nos Caminhos e contaria que quis morrer por vontade própria junto dos seus amigos, e que isso traria anos de prosperidade para a humanidade sobrevivente.

    Mas que secretamente ele deixaria uma ordem no subconsciente da Mikasa de propósito: Enterrar seu corpo a fim dos resquícios do verme irem se regenerando e voltarem após alguns séculos, para todo o ciclo violento voltar a acontecer (sem pombo aparecendo). Seja essa decisão influencia do verme ou vontade do próprio Eren (e sem mencionar nada do amor polêmico de Ymir), tanto faz.

    Um vilão ditador frio e cruel até o final. Muito mais simples, com menos chance do enredo se perder. Eren não precisaria de arrependimento, nem parecer um herói. Só mostrar o senso de justiça se corrompendo aos poucos a medida que ele ganhava poder já deixaria o público na dúvida entre apoiar ou não as ações dele, e a virada no final encerraria qualquer dúvida sobre a moralidade do personagem, pegando o público de surpresa.

    Sabe dizer por que o autor não foi por esse caminho até o fim? Mudança de planos? Pressão editorial? Um pouco dos dois?

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    Respostas
    1. É esse um final que eu acharia muito mais digno para todos os personagens. O Eren indo como vilão até o final mostra um tipo de consequência de quem sofreu aquilo tudo, os amigos dele indo por outro caminho mais pacífico são outra consequência. Isso sim é apresentar lados e levantar uma discussão muito válida sobre opressão.
      Eu vi algumas entrevistas do autor e a impressão que eu fiquei é que ele não soube se expressar mesmo (por isso no post eu faço críticas a ele diretamente), se houve pressão editorial talvez ele só revele daqui alguns anos. Tem uma entrevista em que ele pede desculpas dizendo que "deveria ter se expressado mais claramente" no final. Por exemplo, ele diz que a intenção daquela frase maluca do Armin era mostrar que o Armin também se beneficiou das ações do Eren (o que só prova que foi a execução que foi ruim, na hora de botar as coisas no papel o autor não soube se expressar direito).

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    2. Com certeza a ideia era melhor na cabeça do autor kk.
      A classificação desse mangá/anime é shonen mesmo? Seria esse o motivo que impediu o autor de contar uma história mais séria com final mais dramático? Shonen obrigatoriamente tem que ter um final feliz/esperançoso?

      Porque nada me tira da cabeça que o autor queria contar uma história pesada e dramática, mas foi chamado a atenção pelos chefes para o rumo que a história estava indo e decidiu voltar atrás, afinal a mensagem do shonen para o público jovem precisa ser positiva no fim.

      Eu não acompanho mangás e animes de forma assídua, nem os bastidores de editoras e mangakás. Mas nesse caso, tenho a impressão que possa ter sido esse o motivo. O que acha? Isso pode mesmo acontecer? Já ouve casos assim?

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    3. Tem discussões se ele é shonen ou não, mas não sei se isso contribuiu com esse final porque o mangá inteiro é muito trágico e violento, mudar no final seria contradizer o que já tinha sido feito.
      Existem casos em que as editoras forçam mudanças na história, como quando esticaram o tamanho de Naruto, só que se você olhar algumas entrevistas do Isayama ele próprio defende o final com argumentos que fazem sentido. Em uma recente ele diz que um final feliz com tudo acabando em paz é pouco crível, e eu concordo. Então isso me faz pensar que todas as decisões, sendo dele ou da editora, foram de caso pensado e teve um acordo entre todos, só realmente na hora de colocar no papel é que não funcionou.

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